quinta-feira, 18 de junho de 2015

E depois de um ano cansativo, agora as férias!


Ao longo deste 1.º ano, as crianças foram aprendendo que a vida é uma relação de cooperação, o que implica trocas de serviços e um negócio bom para todos. Aprenderam também que os seus atos têm consequências e que terão de fazer as coisas, mesmo as menos agradáveis, por si e pelo seu presente e futuro, e não apenas porque obediência aos pais e professores ou para lhes agradar.

Estudar passou a ser visto pela criança como uma forma de conseguir maisoportunidades e maiores opções quando chegar a altura de fazer escolhas profissionais e de estilos de vida. Gostar da escola, no que ela tem de ótimo e de menos bom (na perspetiva da criança) terá sido essencial para se aprender a lutar pelo que se quer. O brio e a vontade de vencer (num espírito de competição saudável) sedimentam-se nesta idade.
Foi por isso que a entrada no 1.º ciclo se acompanhou de um ritual de passagem e que o primeiro dia de escola foi comemorado pela família e pelos amigos. É, por isso, importante que a criança sinta que venceu mais uma etapa na sua vida. As atividades escolares foram monitorizadas e os progressos registados e aplaudidos, bem como os insucessos notados e analisados.

O ano letivo… e cansativo

Os ritmos de ensino, as longas aulas em que os alunos tiveram de estar quietos e calados, em que não se respeitaram muitas vezes, nem a biologia, nem a psicologia das crianças, provocaram um enorme cansaço nos vossos filhos. Haverá professores e professores, dirão. Felizmente. Mas ainda se registam muitos casos de “ensino à moda antiga”, com professores papagueando temas e veiculando informação, como se abrir a cabeça às crianças e enchê-la de informação fosse o passaporte para uma vida feliz.
Cada criança terá tido, espera-se, a oportunidade de evidenciar áreas de competência e de talento, e isso passou pelos aspetos culturais, artísticos, música, teatro, pintura, escultura, criatividade... E a escola terá estado atenta na identificação e, eventualmente, dinamização dessas capacidades da criança.
Agora, um ano depois, chegaram as férias. A expectativa dos pais já não é a mesma. O 2.º ano será mais difícil do que o 1.º, como é lógico, mas o “Cabo das Tormentas” está ultrapassado. Para a criança, o sentimento de realização foi grande, como grande será, naturalmente, o cansaço, porque acordaram cedo, tiveram tempos letivos extenuantes, recreios de grande atividade e algazarra, trabalhos para casa, exames e provas de aferição, testes, atividades extracurriculares… tanta coisa!

E o que fazer nestas férias?

E então estas férias? Devem ser livres, sem qualquer obrigação escolar ou carregadas de trabalhos e fichas de Matemática e Língua Portuguesa? Devem as crianças poder dormir, “não fazer nada”, estar agarrados aos ecrãs? Ou ser obrigadas a ler, a preencher fichas, a estudar, a rever as matérias dadas e a preparar as próximas?
Nem uma coisa nem outra, provavelmente. O melhor será dividir as férias, essencialmente em três tempos. O primeiro, logo a seguir ao final do ano letivo, deverá ser de “ampla liberdade”, de recuperação das horas de sono em “dívida” e de decidir o que se vai fazendo conforme os dias. Depois, vem o meio das férias, geralmente coincidente com o período de férias dos pais, e aí devem ser privilegiados os programas em família. Finalmente, já no início de setembro, será bom voltar à base, comprar os manuais e forrá-los, organizar os dossiers e, também, dar uma vista de olhos mais atenta pelas matérias que, não esqueçamos, ficaram a “amolecer” no cérebro e a organizar-se, tal como acontece durante o sono.
Não pensemos, pois, que o período de férias e as atividades de lazer são inúteis do ponto de vista cognitivo. Pelo contrário: por um lado, porque se estão sempre a aprender coisas, seja em que contexto for; por outro, porque as matérias aprendidas no ano letivo precisam de tempo – o tempo das férias – para se sedimentarem, depurarem, organizarem e a informação dar origem ao conhecimento e este à sabedoria.
Ler é uma atividade que ajuda muito a este processo, mas não precisa de ser leitura relacionada com o que foi ensinado, pelo contrário, pode ser uma leitura de recreio e meramente lúdica.
É bom, nas férias, praticar as matérias aprendidas, mas de forma lúdica, caseira, associada ao quotidiano e à realidade do local onde se passam férias e na sequência das atividades que se forem fazendo. O estudo e as fichas deverão ser reduzidos ao mínimo dos mínimos… As crianças terão mais vontade de se atirarem de cabeça ao 2.º ano se estas férias pós-1.º ano forem calmas e sossegadas, em termos de exigência académica.
Deixemo-los respirar e aproveitar as férias…

Fonte: Espaço Pais & Alunos, portoeditora.pt

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