Partilhamos aqui um artigo de opinião escrito
por Eduardo Sá na revista Pais e Filhos de 01 de junho de 2012.
1. As crianças têm direito a brincar
todos os dias.
Na escola, entre as aulas e ao longo
delas (sempre que o professor for capaz de pôr brincar a rimar com aprender).
Em casa e ao ar livre – no quarto como num parque – sob o olhar, discreto, dos
seus pais. Brincar só ao fim de semana não é brincar: é pôr uma agenda
no lugar do coração.
2. As crianças têm direito a exigir para
brincar como o principal de todos as deveres.
As crianças têm o direito a
defender a primazia do brincar sobre todas as tarefas. A fórmula: «primeiro,
fazes os deveres e, depois, brincas», tão do agrado dos pais, é proibida! Só
depois do brincar vem o trabalho.
3. As crianças têm direito a unir
brincar com aprender.
Brincar é o “aparelho digestivo” do
pensamento. Liga a imaginação com tudo o que se aprende. Quem não brinca
imita, repete, fabula, falseia ou finge. Mas zanga-se, sem redenção, com o
aprender!
4. As crianças têm direito a não saber
brincar.
Brincar é uma sabedoria que nunca se
detém: inventa-se, descobre-se, deslinda-se, desvenda-se. Brincar é confiar: no
desconhecido, no que se brinca, com quem se brinca. Crianças sossegadinhas são brinquedos
à espera dos pais para brincar.
5. As crianças têm direito a descobrir
que os melhores brinquedos são os pais.
Apesar disso, têm direito a requisitar
tudo o que entendam para brincar. Têm direito a brincar com as almofadas,
com caixas de cartão, com os dedos, e com tudo mais que entendam, por mais que
não sejam objectos convencionados para brincar. Tudo aquilo que não serve
para brincar não presta para descobrir e com brinquedos de mãos brinca-se de
menos.
6. As crianças têm o direito a
desarrumar todos os brinquedos
(e a arrumá-los, de seguida, com um toque…
pessoal). Têm direito a desmanchar os que forem mais misteriosos, mais
rezingões ou, até, os divertidos. Quando brincam, têm direito a ter a vista na
ponta dos dedos, a cheirar, a sentir, a falar, a rir ou a chorar. Não
há, por isso, brinquedos maus! A não ser aqueles que servem para afastar as
pessoas com quem se pode brincar.
7. As crianças têm direito a brincar
para sempre
A Infância nunca morre: apenas
adormece. E quem, crescimento fora, se desencontra do brincar, não perceberá,
jamais, que não há crianças se não houver brincar.
Eduardo Sá