Partilhamos aqui um texto que resultou das sessões de filosofia realizadas nas AECs do pré-escolar.
Exercício - Criação conjunta
de uma história
Este exercício ocupou-nos três sessões que consistiram no visionamento e diálogo sobre um pequeno
filme de animação inspirado no conto de José Saramago “A Maior Flor do Mundo”,
na criação conjunta de uma história a partir das ilustrações desse mesmo conto e na ilustração
pelas próprias crianças das suas passagens preferidas.
Os desenhos das crianças serão brevemente afixados numa parede
da escola.
Ao criarem uma história em conjunto as crianças são levadas
a interpretar à sua maneira as imagens que lhes vão sendo mostradas,
encontrando vários sentidos e implicações dessa sequência de imagens,
imaginando caminhos e desfechos alternativos para a “sua história”, encontrando
diferentes explicações e dando a sua opinião para o que vai acontecendo.
O que vai acontecer a
seguir?; Por que é que a flor está triste?; “O menino faz bem em ir atrás do
bichinho? Porquê?”. São algumas das perguntas que fazem com que as crianças
pensem de diferentes ângulos sobre a história que vai sendo criada por elas levando-as
a sugerir hipóteses, a avançar explicações, a justificar aquilo em que
acreditam, a concordar ou a dicordar de um amigo, etc.
Desta forma conseguimos que as crianças vivam intensamente a
história, prestem atenção ao que vai acontecendo, se ouçam umas às outras (pois
aquilo que um amigo diz terá importância real para o desenrolar da “sua
história”) e ganhem gradualmente confiança nas suas próprias capacidades de
raciocínio ao sentirem que as suas ideias são bem acolhidas pelo grupo de
amigos e que o seu esforço de colaboração e diálogo lhes traz resultados
palpáveis: uma história real criada por
elas próprias.
Seguem-se as histórias criadas pelos três grupos do
pré-escolar de “Nevogilde a partir deste desafio lançado por José Saramago:
Quem me dera saber
escrever histórias para crianças, mas nunca fui capaz de aprender… e tenho
pena.
Quem sabe se um dia
virei a ler esta história escrita por ti que me lês, mas muito mais bonita. (José Saramago)
Aqui estão três versões da tua história, José!
“A Flor Enorme”
Autores: (Grupo A)
1 – Um senhor está a
beber vinho sentado à mesa e a escrever. Os livros estão todos no sítio, atrás
dele, sem ele mexer.
A luz ao lado pode ser
do sol ou da lanterna.
2 – Um menino está à
janela. Está triste porque o pai e a mãe foram-se embora para outro sítio.
3 – Agora o menino foi
lá para fora e está a correr. Deve estar à procura do pai e da mãe.
4 – Está a escorregar
para um túnel, ou para um puf, ou para o sol. Mas não deve ser o sol porque o
sol não tem letras.
5 – O menino agora
está gigante, ou então estamos muito perto da cara. Está a tocar na flor com o
dedo.
O pau da flor é uma
pista parecida com um escorrega.
6 – A flor aqui está
triste pois não tem água para beber nem sol para crescer.
7 – É por isso que o
menino vai dar água à flor com as mãos, como no filme. Aqui (no livro) ela
também ficou enorme. No filme a flor era mais gira.
Se calhar é a mesma
flor.
E se calhar é o mesmo
menino.
Fim.
“O senhor velhinho, a menina e a
flor”
Autores (Grupo B)
1 - Um senhor
velhinho, com cabelo branco e óculos na ponta do nariz, está sentado numa
cadeira a escrever.
2 – Tem uma luz para
escrever e um copo de água para beber se tiver sede.
Também tem jornais,
uma cortina atrás dele e uma persiana com uma fada a olhar para ele.
3 – Numa mão tem
papéis e na outra tem uma caneta.
4 – Uma menina está à
janela a olhar lá para fora.
5 – Agora a menina foi
lá para fora e está a correr por uma ponte ou por uma estrada. Em cima dela
está um ferro enorme que deve ser uma caneta a escrever a num papel.
Deve ser a caneta do
senhor velhinho!
6 - A menina correu
até à floresta.
7 – Aí há flores
tristes ou murchas no chão.
Se estão tristes é
porque estão sozinhas e se estão murchas é porque estão com sede. Mas pode ser
as duas coisas.
8 – A menina
escorregou pelo pé da flor que é a estrada e agora está a correr.
9 – Olhou para a flor
que está a morrer e pôs-lhe o dedo em cima.
10 – Para salvar a
flor a menina foi a correr buscar água com as mãos e agora a flor está a
crescer muito porque a menina lhe deu água. A flor ficou gigante.
11 – A mulher e o
homem do desenho são o pai e a mãe da menina. Estão muito tristes e a chorar
porque não encontram a filha.
12 – Todos foram à
procura da menina para a floresta.
13 – Encontraram a
menina e ela tinha uma pétala em cima. Ou então era uma folha. Foi a flor que a
pôs em cima para a menina não ter frio, como no filme que vimos na outra aula
de filosofia.
14 – O avô da menina
deixou-a ir para casa às suas cavalitas porque estava muito contente por a ter
encontrado. A menina está a rir muito porque está muito feliz.
Fim.
“O menino e a Flor”
Autores (Grupo C)
1 – Um senhor está a
pintar um quadro. Esse senhor chama-se Francisco.
2 – Está sentado à
mesa a beber água.
3 – O Diogo (um
menino) está à janela e o Franscisco está a ver um envelope que lhe enviaram.
4 – O Diogo está a ver
uma menina a correr. Chama-se Maria e é sua irmã.
5 – A Maria está a
correr na ponte e o Diogo foi ter com ela a escorregar na Flor que era mágica.
6 – O Diogo colou uma
coisa num papel que era uma cidade, uma floresta ou uma montanha.
7 – Agora o Diogo está
a olhar para uma flor que está murcha no chão.
Esta flor é o
escorrega que o Diogo desceu para ir ter com a Maria.
8 – Esta página tem
uma cidade, tem o nosso planeta e tem uma flor. O Diogo dá água à flor por um
tubo muito grande. Como bebe muita água pelo tubo a flor cresce muito até ficar
do tamanho do céu.
9 – Agora o Diogo deve
se ter perdido e por isso os pais estão tristes e a chorar abraçados.
10 – A flor está a
entrar pela janela da casa deles para lhes mostrar onde está o Diogo.
11 – O pai foi
procurar o Diogo e encontrou-o a dormir debaixo de uma pétala da flor e levou-o
para casa às cavalitas. O Diogo está muito contente.
Veja o filme que
inspirou esta em:
Tomás Magalhães
Carneiro – Projecto Filósofos a Brincar
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